Com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, startups na Letônia e em países vizinhos estão se inspirando para inovar. Empresas que antes criavam produtos para o uso civil, como scooters e drones recreativos, agora adaptam essas tecnologias para atender às demandas de conflitos militares.
O surgimento da Scooter Mosphera: um veículo fora do comum
À primeira vista, a scooter Mosphera, da startup letã Global Wolf Motors, parece uma scooter superdimensionada. Com design robusto, ela lembra o "monster truck" das scooters: uma plataforma a sete polegadas do chão, espaço amplo para os pés e aceleração que impressiona.
Enquanto o modelo testado alcança velocidades moderadas, sua versão completa atinge até 100 km/h em terrenos planos, percorre 300 km com uma única carga e encara inclinações de até 45 graus.
Criada em 2020, a Global Wolf Motors visualizou o Mosphera como uma solução para micromobilidade em ambientes desafiadores. Agricultores, mineradores e até policiais poderiam se beneficiar do veículo.
Mas a ideia de levar essa inovação para o campo de batalha parecia distante — até que o cenário geopolítico mudou.
Da Letônia para a linha de frente
Inicialmente, a ideia de uma scooter militar enfrentou ceticismo das forças armadas da Letônia. Entrar no mercado de defesa não era fácil, devido à burocracia e aos desafios de credibilidade.
No entanto, a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, abriu espaço para soluções fora do comum. Nos primeiros dias do conflito, as forças ucranianas estavam dispostas a testar qualquer equipamento inovador.
Aproveitando essa oportunidade, a Global Wolf enviou duas scooters mosphera ao exército ucraniano, que logo as colocou em ação. Em semanas, elas estavam na linha de frente, usadas por tropas de reconhecimento em missões arriscadas.
Inovação guiada pela necessidade
Essa transformação reflete uma tendência maior: produtos civis adaptados para o uso militar. Startups como a Global Wolf Motors estão explorando novos nichos à medida que o mercado militar demonstra interesse por soluções rápidas, eficientes e tecnológicas.
A experiência da Mosphera na guerra da Ucrânia é um exemplo claro de como a inovação pode ser acelerada em tempos de crise. O cenário também aponta para um futuro onde tecnologias originalmente desenvolvidas para o cotidiano se tornam ferramentas estratégicas em situações de alta complexidade.
A transformação da tecnologia civil
A guerra na Ucrânia revelou o potencial de startups para criar soluções militares acessíveis e eficazes. Tecnologias originalmente voltadas para o consumo civil, como drones e sistemas de inteligência artificial, foram adaptadas para usos como observação de artilharia, cibersegurança e suporte em campo de batalha.
Essa evolução foi impulsionada por uma abordagem colaborativa: engenheiros trabalham diretamente com soldados no front, refinando produtos em tempo real. Essa integração acelerada reduziu custos e ampliou a eficácia, chamando a atenção de governos e das forças armadas europeias para a inovação ágil das startups.
Oportunidades e desafios
A crescente demanda por soluções de uso dual — produtos com aplicações civis e militares — abriu novos mercados para startups na Europa.
Empresas na Letônia e nos países bálticos estão ajustando seus produtos para atender às necessidades militares, um movimento que ganha ainda mais urgência diante de possíveis mudanças no financiamento de defesa dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump.
No entanto, especialistas alertam que a Europa ainda tem lições a aprender com a resistência ucraniana. Apesar dos investimentos bilionários da União Europeia, OTAN e setor privado em inovação militar, é essencial que esses esforços sejam estratégicos e bem coordenados.
A guerra trouxe um alerta e uma inspiração para startups e governos. Ao explorar o potencial de inovação tecnológica para defesa, a Europa pode criar soluções sustentáveis e estratégicas, tanto para segurança quanto para o futuro da tecnologia civil.
Leia mais no artigo da MIT Technology Review
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