Samsung enxerga grandes oportunidades após atrasos na IA
- Clara Duarte
- 20 de mar.
- 4 min de leitura
Samsung Electronics, gigante sul-coreana, anunciou em 19 de março que está buscando aquisições e fusões significativas para impulsionar seu crescimento, após um período de dificuldades. A empresa, que em 2024 foi uma das ações de tecnologia com pior desempenho, enfrenta uma série de desafios para retomar sua posição no mercado e se beneficiar das oportunidades emergentes, especialmente no campo da inteligência artificial (IA).

Nos últimos trimestres, a Samsung enfrentou uma queda significativa em seus lucros e uma desvalorização acentuada de suas ações. A principal razão para esse declínio foi a incapacidade de acompanhar a velocidade de seus concorrentes em segmentos estratégicos, como chips avançados de memória e a fabricação de chips sob contrato, áreas que têm se beneficiado diretamente do crescimento acelerado de projetos relacionados à IA.
Empresas como a Nvidia, que dependem fortemente de chips de memória de alta largura de banda (HBM), se destacaram ao aproveitar rapidamente esse boom tecnológico, deixando a Samsung para trás.
O atraso no aproveitamento das tendências de IA foi um dos pontos destacados por acionistas durante a reunião anual da companhia, na qual expressaram suas frustrações e pediram ações imediatas para reverter o fraco desempenho das ações.
Jun Young-hyun, co-CEO da Samsung e responsável pelos negócios de semicondutores, reconheceu a falha da empresa em antecipar o potencial dessa tecnologia emergente e pediu desculpas pela queda no valor das ações.
“Nos atrasamos na leitura das tendências do mercado e, como resultado, perdemos o mercado inicial”, afirmou Jun, reiterando que a empresa está decidida a recuperar o terreno perdido.
Em resposta a essas críticas, a Samsung apresentou um novo foco para o futuro. Em uma tentativa de reverter o desempenho das ações e alinhar seus interesses aos de seus acionistas, a companhia implementou um sistema de desempenho baseado em ações no ano passado, destinado inicialmente aos executivos.
Agora, a Samsung está considerando expandir esse sistema para seus funcionários, com o objetivo de aumentar o engajamento e impulsionar os preços das ações, alinhando a força de trabalho à missão de recuperar o valor de mercado da empresa.
O co-CEO Han Jong-hee também se dirigiu aos investidores, afirmando que 2025 será um ano desafiador devido às incertezas globais em torno das políticas econômicas, especialmente em relação às grandes economias mundiais, como os Estados Unidos e a China.
No entanto, Han destacou que a Samsung está determinada a buscar fusões e aquisições (M&As) "significativas" para atender às expectativas de seus acionistas sobre o crescimento futuro.
"Embora existam dificuldades regulatórias e desafios relacionados a interesses nacionais, estamos determinados a produzir resultados tangíveis neste ano", afirmou.
Este movimento para explorar aquisições estratégicas é uma tentativa clara de transformar a crise atual em uma oportunidade de crescimento, especialmente em um momento em que a Samsung enfrenta intensa concorrência no setor de semicondutores.
Nos últimos anos, a empresa perdeu participação de mercado para concorrentes como a TSMC, que lidera a fabricação de chips sob contrato, e a SK Hynix, que tem sido bem-sucedida na área de chips HBM, um componente essencial para as unidades de processamento gráfico utilizadas em projetos de IA.
A competição no setor de smartphones também tem sido um ponto crítico. A Samsung, que já dominou o mercado de smartphones, perdeu espaço para rivais como a Apple e fabricantes chineses, que têm conquistado uma fatia crescente do mercado global. Como resultado, a Samsung tem enfrentado um período de retração em suas vendas, o que tem impactado diretamente seus lucros e a percepção do mercado sobre sua capacidade de inovar.

Em relação ao futuro, Jun Young-hyun prometeu aos acionistas que 2025 seria "o ano em que recuperaríamos nossa competitividade fundamental". No entanto, a empresa ainda enfrenta desafios significativos.
A imposição de novas restrições pelo governo dos Estados Unidos às exportações de chips de ponta para a China – que se tornou o maior mercado da Samsung graças à sua produção de chips – representa um obstáculo adicional. A Samsung precisará navegar por esse cenário geopolítico complexo, equilibrando sua presença na China com a necessidade de se adaptar às políticas de exportação dos EUA.
Han Jong-hee afirmou que a Samsung responderá de forma flexível às tarifas impostas pelos EUA, utilizando sua cadeia de suprimentos global e sua presença de fabricação. A empresa também está considerando investimentos em solo americano, aproveitando subsídios oferecidos pelo governo dos Estados Unidos para estimular a produção doméstica de semicondutores.
Esses incentivos, lançados sob a Lei CHIPS de 2022, têm beneficiado gigantes como Samsung, Intel, TSMC, Micron e SK Hynix, todos competindo por uma fatia dos bilhões de dólares destinados à produção de chips nos EUA.
Com uma capitalização de mercado de US$ 235 bilhões, a Samsung segue sendo a maior empresa da Coreia do Sul, representando cerca de 16% do valor total da bolsa do país.
Quase 40% dos investidores em ações sul-coreanas possuem ações da Samsung, o que a torna uma peça fundamental no mercado financeiro local. No entanto, a empresa sabe que, para manter sua posição de liderança, precisará adotar uma abordagem mais agressiva e inovadora, seja por meio de novas aquisições, investimentos em tecnologia ou ajustes estratégicos diante de um cenário econômico e geopolítico desafiador.
Ciente da importância de reinventar suas operações e se adaptar rapidamente às novas demandas tecnológicas, a Samsung está determinada a retomar sua trajetória de crescimento.
Em um cenário onde a inteligência artificial e a inovação em semicondutores são chave para o futuro, a empresa busca não apenas recuperar sua competitividade, mas também estabelecer-se como líder em um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo.
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